Pastor




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Porque, ainda, sou pastor...
O termo "pastor" está por demais desgastado no imaginário popular brasileiro e não sem motivo. Pululam em todos os cantos de nossa sociedade, especialmente nos meios de comunicação, exemplos de religiosos que utilizam este título (ou outros correlatos) deixando em seu campo semântico sigficados como: ganância, corrupção, manipulação, fanatismo, ostentação, alienação, etc...
Por que, então, alguém de boa-fé no exercício da religiosidade ainda se prestaria a aceitar tal designação? Posso elencar, pelo menos, três razões principais:
Em primeiro lugar, porque o ofício do pastor, nada mais é, do que o papel de alguém cuja incumbência principal é amar e estar disposto a servir de esteio e apoio ao próximo. Embora esmaecida pela prática dos religiosos em geral, a importância do trabalho pastoral, via de regra, nunca será vislumbrada em gestos de grande apelo popular, mas será sempre sentida na vida real de pessoas enlutadas que recebem conforto, de pacientes e seus familiares fortalecidos por palavras de esperança, de indivíduos desorientados que encontram um caminho na companhia de um amigo de fé.
Em segundo lugar, porque a sociedade contemporânea, cada vez mais materialista, competitiva e consumista, necessita receber uma mensagem que faça um contraponto a este estado de coisas enfatizando a primazia dos valores intagíveis da fé, da esperança, da solidariedade, da igualdade entre os seres humanos. A própria religião, cada vez mais, abandona estes valores aderindo ao ethos do individualismo consumista. Por isso, o trabalho do pastor é extremamente necessário em nossos dias: para lembrar às pessoas que "a vida é mais do que o alimento", por mais gourmetizado que esteja, e "o corpo mais do que as vestes", por mais belas (e caras) que elas sejam.
Em terceiro lugar, porque, a despeito dos maus exemplos, a História nos oferece uma série de personagens que honraram e dignificaram o ofício pastoral. A começar pelo próprio Jesus Cristo, que a si mesmo designou de "O Bom Pastor" revolucionando a História através do amor; passando por gente do quilate de Francisco de Assis, que salientou a questão da irmandade do humano com toda a Criação antes que se concebesse a mais parca noção de qualquer conceito próximo a ecologia ou sustentabilidade; de Martinho Lutero, que desafiou um império eclesiástico para proclamar a liberdade de cada cristão diante de Deus; de Karl Barth, Martin Niemöller e Dietrich Bonhoeffer, que desafiaram o nazismo com a autenticidade do Evangelho, este último, pagando com sua própria vida; de Martin Luther King, Jr e Desmond Tutu, ícones das lutes pela igualdade de direitos entre os seres humanos; de Rubem Alves, que concebeu nos mais lúdicos conceitos de beleza a verdadeira face de Deus a ser ensinada aos pequeninos; de Leonardo Boff, que gastou sua vida na luta por uma sociedade mais justa e pela inclusão dos marginalizados.
Faltariam megabytes de hospedagem para este site se fossem aqui dispostos todos os exemplos de pastores que realmente agiram de acordo com o sentido deste ofício. Assim sendo, para resumir a ideia do que é ser um pastor, valho-me do conceito cunhado por um outro pastor, filósofo, músico, médico, missionário, que dignificou este ofício, chamado Albert Schweitzer. Para ele, ser pastor é zelar pelo princípio ético de "reverência pela vida". Toda vida por mais simples, ínfima, que seja, é sagrada. Tudo o que é vivo deseja viver. Tudo o que é vivo tem o direito de viver. Nenhum sofrimento pode ser imposto sobre as coisas vivas, para satisfazer o desejo dos homens. Deste modo, o pastor é um sentinela, um vigilante em defesa da vida, da liberdade e da dignidade de todos os seres.
E é por isso e para isso que, a despeito de mim mesmo, continuo sendo pastor...
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