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Os "cristãos" e o abraço

  • Foto do escritor: José Luiz Carvalho
    José Luiz Carvalho
  • 9 de mar. de 2020
  • 3 min de leitura

Ainda bem que eu não tinha me posicionado antes sobre a matéria do Fantástico que contou o drama da solidão da Suzy e mostrou o abraço que ela recebeu do Dr. Drauzio Varella.

Não! Não mudei em nada minha opinião ao saber que Suzy está cumprindo pena por um crime hediondo e brutal. Sou cristão e em minha visão de mundo os seres humanos são passíveis das maiores atrocidades, mas também de total regeneração. Aprendi isso nas páginas da Bíblia.

O famoso Rei Davi, que muitos devem conhecer das novelas da Record (e devem achar que ele era a cara do Leonardo Brício) cometeu adultério e mandou para a morte o marido da mulher que tomou para si. Ainda assim, é chamado na Bíblia de "homem segundo o coração de Deus". O apóstolo Paulo, maior propagador da mensagem do Evangelho, foi cúmplice do assassinato de diversos cristãos, a ponto de definir a si mesmo como "o mais miserável dos homens". Jacó era um ladrão, Zaqueu era corrupto, etc, etc, etc... os casos bíblicos de comportamentos execráveis que são perdoados por Deus são inúmeros. E não se trata de pessoas que se "arrependeram". Não! Davi só admitiu seus crimes quando descoberto, Jacó foi abençoado mesmo roubando os direitos de seu irmão, Zaqueu foi visto por Jesus antes mesmo de pronunciar qualquer palavra de reconciliação. O amor de Deus é incondicional.

Tocado por esse amor desde a minha juventude, busquei de muitas maneiras aprofundá-lo em minha vida e tentei compartilhá-los com quem mais precisava. Algumas das experiências que mais me marcaram foram visitas ao presídio Frei Caneca com meus irmãos da Assembleia de Deus do Campo de São Cristóvão ou as visitas ao Galpão da Quinta com meus irmãos da Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro. Ali, não perguntávamos nada sobre o passado daquelas pessoas. Queríamos apenas levar o amor de Deus através de itens de higiene pessoal, cobertores, roupas, a Palavra do Evangelho, ou apenas um abraço. Estávamos impregnados da mensagem cristã que dizia "esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo rumo ao alvo: Cristo Jesus" (Fp 3.13-14).

No entanto, hoje, uma dor me corta fundo o coração: vejo vários daqueles irmãos que estavam nessas visitas comigo e com os quais partilhava o ideal do amor cristão incondicional, condenando a atitude do Drauzio e negando à Suzy qualquer possibilidade de ser amada, de receber apoio. E o pior: a grande maioria AINDA SE DIZ CRISTÃO!!! Muita coisa mudou: naquele tempo, costumávamos ter mais irmãos nos presídios do que nos condomínios da Barra da Tijuca. Eram tempos de uma fé mais singela e sincera...

"Hipócritas! Raça de víboras!!!" Era assim que Jesus se referia aos fariseus, religiosos de seu tempo, que se achavam mais dignos do amor divino do que os "malditos pecadores". Jesus sempre os resistiu e afirmou: "eu vim para os doentes, os sãos não precisam de médico". Pois é assim que hoje vejo esses pretensos cristãos. Canalhas! Pedras de tropeço, agindo para que os que mais precisam não consigam encontrar o amor divino. Vocês se encontrarão um dia diante de Cristo (se é que vocês acreditam, de fato, nisso). E Jesus acolherá aqueles que alimentaram os famintos, vestiram o nu, visitaram os encarcerados... (Mateus 25.35-45) Vocês acham que estarão entre eles agindo assim? Onde foi que vocês se perderam do Caminho?

Quanto a mim, gostaria ainda mais agora de repetir o abraço do Drauzio na Suzy, parafraseando suas palavras: "sou pastor, não juiz".

 
 
 

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